“O Governo Municipal no Brasil: construindo uma nova
agenda política na década de 90”.
Autores: José Antônio Gomes de Pinho e Mercejane Wanderley Santana
Resumo: Carla Aparecida Gomes Santana - aluna do Curso de Especialização em Gestão Pública da UESB
Em face às diversas
transformações do mundo contemporâneo, o Estado e a sociedade assumem papel de
atores estratégicos e sofrem mudanças radicais em suas estruturas e relações.
Os governos locais assumem posição diferenciada frente ao que desempenhavam.
Para Pinho & Santana (2002), não dá para se pensar em governos de uma
maneira homogênea. Partindo desta ideia a tendência é de uma valorização dos
níveis subnacionais de governo em detrimento do governo central, ou seja,
descentralizar este último.
A descentralização transfere
um problema macro (governo central) para uma dimensão micro (governo municipal)
que estaria mais habilitado a resolvê-lo, dado a vivência da comunidade local
que pode definir soluções, além de acompanha-las, interagindo e controlando de
forma mais efetiva.
Pinho & Santana (apud Costa, 1996), coloca que dentro de
uma análise empírica o poder local é um espaço privilegiado para a realização
da democracia, da participação cidadã e de iniciativas econômicas e sociais. Por
outro lado Pinho & Santana (apud Souza,
1996) já indaga que a descentralização é vaga e ambígua e pode prometer mais do
que pode cumprir. Diante desses dois parâmetros sendo um positivo, pelo ponto
de vista do fortalecimento da democracia através dos níveis subnacionais, e
outro negativo onde a crítica destaca frases de efeito como “clientelismo e
ineficiência”, “ingovernabilidade”, e” irresponsabilidade fiscal” que poderia
prejudicar a estabilidade desenvolvida pela base central.
Dentre diversas
mudanças identificadas neste contexto a descentralização trouxe novos padrões
de relacionamento entre o Estado e a Sociedade expressos em ações como
Orçamento Participativo dentre outras. A redefinição do papel do Estado em
nível municipal abrange três áreas de mudanças: a) a estrutura fiscal
federativa : destaca-se a necessidade de uma política de responsabilidade
fiscal incentivando sua própria arrecadação; b) as diferenças socioeconômicas
entre os municípios: torna-se um desafio lidar com várias questões não tendo incentivo a cooperação, pois no
Brasil observa-se a multiplicação de municípios sendo que este problema poderia
ser minimizado como nos países desenvolvidos que adotam uma redução de municipalidades
no intuito de fortalecer o poder local; c) dinâmica política típica do âmbito municipal:
incentivo a práticas e ações que visem institucionalizar as formas de
negociação que incorporem, diretamente , os setores a serem atingidos pelas
políticas municipais. Exemplos dessa experiência são os orçamentos
participativos, conselhos municipais, e outros fóruns de consulta.
Pinho
& Santana (apud Salgado, 1996)
destaca que “desenvolver o município, hoje, é gerenciar os problemas fazendo
frente à complexidade e à incerteza, é melhorar a qualidade dos serviços aos
cidadãos e procurar o desenvolvimento humano ao mesmo tempo em que o
econômico.” No quesito desenvolvimento é importante ressaltar que a gestão
local é mera articuladora neste processo e vai esforçar-se ao máximo para
promover qualidade de vida a esta sociedade.
Para Pinho &
Santana (apud Farah, 1998),
generalizando o governo municipal identifica-se dois eixos principais de
políticas sociais desenvolvidas neste âmbito de governo:
1)
Novas políticas sociais – mudanças sobre
a natureza dos serviços prestados, repercutindo em sua própria política.
Exemplos de atuação na área de saúde(perspectiva preventiva X padrão curativo);
educação (universalização do ensino e combate a evasão e repetências). A
ampliação do espaço da cidadania também é uma tendência através de programas
direcionados às populações vulneráveis (mulheres, idosos, deficientes,
comunidade negra, etc.) e projetos para crianças e adolescentes em situação de
risco pessoal ou social (respeito aos direitos). Ainda se tem programas de
geração de emprego e renda e de desenvolvimento local.
2)
Novas formas de gestão, novos processos
decisórios e novas formas de provisão de serviços públicos – neste quesito
existe uma tendência quanto as mudanças ocorridas na relação entre Estado e
Sociedade Civil com a inclusão de novos atores na formulação e implementação
das políticas públicas (a sociedade civil fazendo parte das políticas públicas,
como exemplo, orçamento participativo); além de informação ao cidadão e maior
adequação dos projetos ao público-alvo, ou seja, a comunidade local.
Analisando o que fazem os governos
municipais, Pinho & Santana (2002)
destacou dois grandes compartimentos de políticas municipais:
ü Políticas
Horizontais: políticas concretas de setores bem explícitos que possam ser
pontuais ou mesmo mais abrangentes. Exemplos são os setores de meio ambiente,
saúde, educação, alimentação e abastecimento, habitação e urbanização, crianças
e adolescentes, emprego e renda, projetos agrícolas.
ü Políticas
Transversais: exibem um caráter mais difuso, abstrato, ou seja, só existem
concretamente se existem as políticas horizontais. Por exemplo entendemos
: democratização e cidadania,
participação popular, combate à pobreza, incorporação dos excluídos.
Ao concluir o trabalho exposto, Pinho
& Santana (2002) apresenta
claramente que pela amostra de projetos selecionados para sua pesquisa existem
pontos relevantes para análise da gestão municipal: a apreciação da
descentralização ainda é uma análise empírica quanto aos fatos; apesar de sua
amostragem ser bem significativa de governos municipais existe uma limitação
destes o que não generaliza uma tendência do que foi abordado; adoção de um welfarismo municipal; expansão de um
sistema desenvolvimentista (prática efetiva da cidadania – combate a
desnutrição, políticas de saúde e educação incluindo todos como cidadãos); práticas
em conservação ao meio-ambiente; o governo municipal exibe um comportamento
pró-ativo mesmo frente as adversidades; sociedade civil está envolvida no
processo de articulação com os governos municipais, destacando um nível de
governo mais próximo do cidadão; percebeu-se que mesmo frente as crises e sem
recursos financeiros a gestão municipal busca soluções alternativas que gerem resultados satisfatórios; com a
ideia de desenvolvimento sustentável, não basta somente combater a desigualdade
e injustiças sociais, mas o governo local deve gerar emprego, deflagrar
atividades econômicas autossustentadas.
Infere-se do texto que mesmo com uma
competência restrita, a gestão local estimula uma nova posição da sociedade
civil frente a problemas sociais, remodelando um novo contexto frente às tradicionais
ações em nível federal.
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